sexta-feira, 4 de março de 2011

Indústria extrativa é destaque do PIB em 2010, com alta de 15,7%.

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04/03/2011

Alta do preço do minério de ferro puxou crescimento do setor industrial.
Produção de ferro cresceu 19%; exportações somaram US$ 28,912 bi.
A indústria extrativa mineral foi a atividade produtiva que registrou o maior crescimento em 2010, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (3). Favorecida pela disparada dos preços das commodities, a indústria extrativa, que inclui petróleo, gás e minérios, subiu 15,7% no ano passado - ritmo bem mais acelerado que o da alta de 7,5% do PIB (Produto Interno Bruto).
(Para ilustrar o avanço do setor de mineração, o G1 visitou a cidade de São Gonçalo do Rio Abaixo, MG, onde está localizada a mina de Brucutu, a segunda maior do país, responsável por 10% da extração de minério de ferro da Vale no Brasil no ano passado - leia reportagem).
O desempenho da atividade extrativa impulsionou a recuperação da atividade industrial, um dos setores mais abatidos pela crise e que terminou 2010 com alta de 10,1% - superando  - crescimento superior ao da agropecuária (6,5%) e serviços (5,4%) (veja tabela abaixo).
 

Dentro do setor de extração, foi a produção de minério de ferro o grande destaque do ano passado, quando atingiu 370 milhões de toneladas e crescimento de 19% sobre 2009, segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). A produção brasileira em 2010 representou 16% do total mundial (2,3 bilhões de toneladas).
"Com a retomada do crescimento das economias mundiais, aumentou a demanda por minério de ferro, que é um insumo básico da atividade produtiva. E a venda de minério de ferro aumentou mesmo com o preço do insumo dobrando em 2010", disse Roberto Luís Olinto Ramos, coordenador de Contas Nacionais do IBGE.
De acordo com o Ibram, o minério de ferro é responsável por 82% do total das exportações de minerais e o carro-chefe do saldo da balança comercial brasileira em 2010. Em termos de valor movimentado, a produção mineral do país (exceto petróleo e gás) cresceu 566% de 2001 a 2010, saindo de US$ 6 bilhões para US$ 40 bilhões, segundo dados do instituto.
“Se não fosse o ferro, o país teria tomado ferro”, brinca o presidente do instituto, Paulo Camillo Vargas Penna, que prevê taxas de crescimento da produção entre 10% e 13% nos próximos três anos.
 
 

As vendas de ferro para o exterior somaram US$ 28,912 bilhões em 2010, cerca de 14% de todas as exportações. Da produção total de 370 milhões de t, 311 milhões de t seguiram para outros países, um crescimento de 17% em relação a 2009, quando foram exportadas 266 milhões de t. Já em termos de volume financeiro, o crescimento foi de 119%. Em 2009, as vendas externas somaram US$ 13,247 bilhões.
Os produtos minerais representaram 17,5% de tudo que o Brasil exportou no ano passado. O saldo das exportações de minérios, descontadas as importações, foi de US$ 27,6 bilhões em 2010, um valor 38% maior do que o saldo total da balança, que ficou em US$ 20 bilhões.
Segundo Penna, o crescimento em 2010 ficou acima das expectativas. “Foi uma surpresa. A rapidez da recuperação do setor nos surpreendeu", diz. Em 2009, em função da crise financeira internacional, a produção de minério de ferro recuou para 310 milhões de t. Em 2008, a produção foi de 351 milhões de t e, em 2007, de 355 milhões de t.
O "boom de ferro" levou a Vale, maior empresa de minério de ferro do mundo, a obter em 2010 lucro recorde de R$ 30,1 bilhões e a alcançar em 2010 o posto de principal exportadora brasileira, desbancando a Petrobras, líder desse ranking desde 2002. A Vale sozinha produziu 307,8 milhões de toneladas de ferro, volume recorde e 29,4% superior à produção de 2009. Para 2011, a expectativa é de uma produção de 311 milhões de t.
O Brasil é hoje o segundo maior produtor de ferro do mundo, atrás apenas da China, que extraiu no ano passado cerca de 500 milhões de toneladas. Em 2009, segundo a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), o Brasil ficou atrás apenas da Austrália,que produziu 394 milhões de toneladas. A Índia totalizou 257 milhões de toneladas e a China ficou em quarto lugar, com 234 milhões de toneladas.
China é o destino de 48% do exportado
 
A China é o principal destino das exportações brasileiras de minério de ferro. Em 2010, 48% das vendas externas da commodity foram destinadas ao gigante asiático. É justamente o acelerado processo de urbanização da China e sua voracidade por matérias-primas que tem feito turbinar os preços. Da construção civil à indústria de bens duráveis, tudo consome muito aço - e cada tonelada de aço leva 1,5 tonelada de minério de ferro.
O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração minimiza, porém, a dependência brasileira das compras chinesas. “A participação da China no total de exportações já foi maior. Em 2009, chegou a 55%”, diz Penna. “Com a recuperação dos países europeus, do Japão e da Coreia, a participação chinesa deve cair”.
Em sua corrida por recursos naturais, as empresas chinesas passaram a fazer investimentos além-mar, inclusive no Brasil. Em 2010, a Honbridge adquiriu um projeto de mineração em Minas Gerais por US$ 400 milhões e a Wuhan Iron and Steel Corporation (Wisco) fechou uma parceria com a MMX, de Eike Batista, adquirindo 17% do controle acionário da companhia com um aporte de US$ 400 milhões. Hoje, 60% das exportações da MMX têm a China como destino.
“A China é o maior consumidor de minério de ferro. Por causa disso, temos que também ter uma voz na decisão sobre preços, que subiram muito”, diz cônsul-geral da China em São Paulo, Sun Rongmao.
Em 2010, o preço médio da tonelada de minério de ferro vendida para a China ficou em US$ 140, uma alta de 75% em relação a 2009, quando o preço médio foi de US$ 80 em 2009. No ano 2000, o preço médio estava em US$ 28.
 
 

 
 
Penna avalia que os avanços chineses no Brasil ainda são pouco significativos em termos de participação na produção de minérios. Segundo ele, mais de 60% dos investimentos no setor são de empresas com origem no Brasil. Mas, afirma,  “não podemos abrir mão do capital estrangeiro, principalmente em áreas como investigação geológica. Temos pouco mais de 20% do território levantado em pesquisas”.
O Ibram prevê um novo ciclo recorde de investimentos para mineração no Brasil: US$ 64,8 bilhões até 2015. Só os projetos de minério de ferro devem abocanhar um total de US$ 42,3 bilhões. “É o setor privado que mais investe no Brasil”, diz Penna. O Pará segue como o principal destino dos investimentos, seguido pelo estado de Minas Gerais.
As reservas confirmadas de minério de ferro no Brasil alcançam 29 bilhões de toneladas, situando o país em quarto lugar em relação às reservas mundiais, estimadas em 160 bilhões de
toneladas.
Novo marco regulatório da mineração
O Plano Nacional de Mineração (PNM) 2030, lançado em fevereiro, antevê investimentos de cerca de US$ 270 bilhões nos próximos 20 anos, e alerta sobre a necessidade de agregar valor aos produtos antes de exportá-los diante da atual predominância da exportação de matérias-primas em detrimento de bens de média e alta tecnologia.
O governo Dilma estuda uma reforma do marco regulatório da mineração. O projeto de lei ainda não está fechado, mas pode incluir mudança na forma de cobrança dos royalties. Hoje, a alíquota de compensação gira em torno de 2% do faturamento líquido da produção mineral. A contribuição é recolhida a título da Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais (CFEM), que é distribuída entre cidades, estados e União.
"Só lembram da mineração no período de exuberância de preço e produção”, diz Penna. Para o Ibram, as propostas de alterações dos royalties da mineração não podem usar como parâmetros as regras do petróleo. “A mineração é uma atividade de alto risco e longo prazo. Carajás teve que construir ferrovia e levou 20 anos entre a pesquisa e o início da produção. No petróleo, constrói-se uma plataforma e quando a operação acaba, é só muda de lugar”, diz.
Um dos objetivos da reforma no marco regulatório seria estimular investimentos na industrialização do setor, hoje centrado no minério bruto. Em 2010, a produção brasileira de aço bruto alcançou 32,8 milhões de toneladas em 2010. Ou seja, consumiu um volume de minério de ferro inferior a 15% do total extraído no Brasil. Já o total de produtos siderúrgicos importados somou 5,9 milhões de toneladas, segundo o Instituto Aço Brasil, representando cerca de 20% do aço consumido no mercado interno.
A Vale tem procurado parceiros para seus 4 projetos siderúrgicos, que totalizam cerca de US$ 21 bilhões. As novas usinas estão sendo construídas no Ceará, Pará, Espírito Santo e Rio de Janeiro e a previsão é que até 2015 tenham uma capacidade de produção de 20 milhões de toneladas de aço.
"Nossa participação é no sentido de viabilizar. A gente sempre tem a expectativa de atrair um parceiro siderúrgico que se responsabilize pela operação”, diz o diretor de Vendas e Estratégia da Vale, José Carlos Martins. “Acreditamos que esses projetos possam estar entrando em operação num momento bastante positivo da economia. O Brasil dando certo vai precisar de muito aço. Não há uma sociedade desenvolvida que não tenha um grande consumo de aço”.
O presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello, ressalta que a produção nacional tem historicamente ficado abaixo da capacidade instalada de 44 milhões de t/ano.
“O grande desafio não é instalar mais usinas para agregar valor, e sim saber como fazer o mercado interno crescer. O consumo per capita de produtos siderúrgicos no Brasil está inalterado há 26 anos”, diz Lopes. Ele lembra que, na China, o consumo per capita subiu de 34 kg por habitante, em 1980, para 405 kg por habitante, em 2009, ao passo que no Brasil a média tem permanecido no patamar de 100 kg por habitante.
“Não pode se ter a pretensão de colocar capacidade instalada se não há demanda. A pergunta a ser feita é: vai vender pra quem?”, completa Lopes.
G1


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