segunda-feira, 9 de maio de 2011

Que venham os navios

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09/05/2011


Apesar do dólar baixo, exportações no primeiro quadrimestre batem recorde e atingem US$ 71,4 bilhões. A surpresa: crescem as vendas de produtos industrializados

Uma semana antes de anunciar os números da balança comercial, na segunda-feira 2, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, já tinha avisado que os resultados surpreenderiam. De fato, os US$ 71,4 bilhões embarcados no primeiro quadrimestre, 31,3% acima do registrado no mesmo período de 2010, bastaram para cravar um novo recorde, a ponto de o governo revisar para cima a meta de exportações para este ano: de R$ 228 bilhões para R$ 245 bilhões.

Um feito notável, sobretudo, diante de um cenário cambial em que o real valorizado torna os produtos nacionais mais caros e, em tese, menos competitivos no Exterior. O que explica, então, esse recorde brasileiro, ainda mais diante de uma recuperação letárgica das economias desenvolvidas? Há duas respostas para a expansão das vendas brasileiras.

De um lado, a forte escalada nas cotações das commodities agrícolas, aproximando-a de picos históricos, aliada à voraz demanda do mercado chinês por insumos básicos, como o minério de ferro e a soja do Brasil. De outro, a recuperação das vendas em setores que ainda sofriam os impactos da crise de 2009, como o de máquinas e o de veículos de transporte, a despeito das queixas de muitas indústrias contra o dólar depreciado.

Entre os 13 produtos brasileiros mais vendidos em abril em relação ao mesmo mês do ano passado, quatro são de categoria manufaturados, com altas entre 21%, caso das autopeças, e 97%, como as máquinas de terraplanagem. As exportações dessas máquinas, destinadas a obras rodoviárias, já acumulam uma receita de US$ 666 milhões entre janeiro e abril.

No total, o setor de máquinas já responde por vendas externas de US$ 2,6 bilhões no período. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o resultado se equipara ao do primeiro quadrimestre de 2008. Porém, ressalva que se restringe a alguns tipos específicos de maquinários, como é o caso da terraplanagem.“Muitas empresas estão exportando com margem reduzida para manter o mercado internacional aberto”, diz Klaus Müller, diretor-executivo de mercado externo da Abimaq.

Já no caso de veículos, o bom momento econômico em outros países emergentes, como Chile, Colômbia e África do Sul, beneficiou empresas que já tinham negócios por lá. É o caso da MAN, antiga Volkswagen Caminhões. Neste ano, o número de veículos de carga exportados da marca chegou a 2.421 unidades, 42,8% a mais do que no primeiro quadrimestre de 2010. Segundo Roberto Cortes, presidente da MAN Brasil, isso acontece apesar do reajuste de 10% nos preços para compensar o real valorizado. Para os próximos 12 meses, o cenário também é positivo.

“Vamos retomar os antigos patamares a partir do primeiro trimestre do ano que vem”, diz Cortes. A venda de caminhões foi fortemente impactada durante a crise, com redução de 50% das exportações em 2009, sobre 2008. “No ano passado, já havíamos registrado alta de 15% nas vendas externas.” O Brasil também tem retomado espaço em outros segmentos do setor automotivo. As vendas de motores, por exemplo, cresceram 39,4% e a de autopeças, 24,8%. Este último, porém, prevê um déficit em sua balança superior a US$ 4,5 bilhões, em 2011.

Nenhum outro produto, entretanto, tem contribuído tanto para impulsionar as exportações, como o minério de ferro. Somente no primeiro quadrimestre, as vendas da commodity chegaram a US$ 11,2 bilhões, receita 125,9% superior ao mesmo período de 2010. Um salto que se deve muito mais à disparada na cotação (88%), nos últimos 12 meses, do que ao aumento do volume exportado (22%). Na semana passada, por exemplo, o preço da tonelada do minério chegou a US$ 181 no mercado à vista chinês, um dos principais termômetros para contratos futuros.

Boa notícia para as mineradoras brasileiras que, no primeiro trimestre, destinaram 45% do minério exportado para portos da China. “A China, um país de 1,3 bilhão de pessoas, está garantindo infraestrutura para 800 milhões de pessoas, algo que demanda muito minério”, diz Antônio Lanes, gerente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Segundo ele, a tendência não deve se esgotar no curto prazo. “Estudos apontam para uma demanda alta pelos próximos três anos.”  

A conjuntura favorável faz o Brasil se beneficiar de um raro cenário, em que a valorização de commodities anula a depreciação do dólar. “É mais uma prova de que Deus é brasileiro”, diz o economista Celso Grisi, diretor da Fundação Instituto de Administração (FIA). Para ele, porém, a concentração das exportações em apenas poucos produtos – minério de ferro e soja – é perigosa. Um arrefecimento na demanda mundial por minério de ferro teria forte impacto sobre o saldo comercial, hoje em US$ 5 bilhões.

Para diluir a concentração da pauta, o governo prepara incentivos a exportadores de manufaturados. As medidas estarão detalhadas na segunda edição da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), que será anunciado até o fim deste mês. “Não temos preocupação com a quantidade que exportamos, que é confortável, mas com a qualidade”, disse o ministro Fernando Pimentel. Essa conta só fecha, segundo ele, com o aumento das vendas de bens industrializados. Uma das metas será estancar a queda na participação dos produtos manufaturados, que já encolheu de 42,5% para 37,5% em 2011.
Isto É Dinheiro

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