segunda-feira, 9 de maio de 2011

Uma nova corrida pela mineração

www.simineral.org.br
09/05/2011

Siderúrgicas investem alto para lucrar com a extração de ferro. Em 5 anos, elas podem atingir um terço da produção da Vale

Os lucros proporcionados pelos bons preços do minério de ferro no mercado internacional levam as indústrias siderúrgicas a disputar clientes no mesmo quintal explorado pelas mineradoras. Até então os fabricantes de aço investiram na produção da matéria-prima para consumo próprio, empenhados em reduzir as despesas nas fábricas. Agora, o mesmo custo alto que elas pagam pelo minério vai se transformar em receita no longo prazo, com uma produção capaz de garantir autossuficiência e voltada também para abastecer de minério, e não de produtos siderúrgicos, o mercado nacional e o exterior.

A investida surpreende em Minas Gerais, onde estão localizadas as reservas de minério de cinco grandes siderúrgicas: Usiminas, ArcelorMittal, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), grupo Gerdau e a V&M do Brasil (antiga Mannesmann). Juntas, elas têm planos de produzir cerca de 100 milhões de toneladas de ferro por ano dentro dos próximos quatro a cinco anos. O volume, que foi estimado pelo Estado de Minas com base nos números divulgados pelas empresas e nas estimativas do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), equivale a quase um terço do desempenho da Vale, a segunda maior mineradora do mundo, no segmento da produção de ferro durante o ano passado.

A Vale bateu recorde em 2010, ao produzir 307,8 milhões de toneladas da commodity. A produção conjunta projetada para 2014/2015 pelas cinco maiores siderúrgicas somaria, portanto, 32,3% do resultado da Vale. Elas sairão, este ano, de um volume também projetado de 50,5 milhões de toneladas, ou seja, em cinco anos terão, na prática, dobrado a produção de minério.

A corrida das siderúrgicas atrás das reservas de ferro põe mais lenha na fogueira da recente polêmica aberta pelos governos federal e mineiro, que tentam forçar as mineradoras a agregar valor à matéria-prima, com a transformação do ferro em aço no país. Foi um dos motivos das desavenças entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Vale, Roger Agnelli, que deixa a companhia dia 20. Os planos das siderúrgicas na área de mineração até 2015 são baseados em preço. O minério de ferro é negociado no mercado internacional a US$ 180 por tonelada, sem contar o custo do frete, quando nos anos 90 valia a bagatela de US$ 13 por tonelada.

Os projetos de mineração ganharam tanta importância na indústria siderúrgica que a Gerdau, de Porto Alegre, anunciou já para 2012 a conquista da autossuficiência em minério da Gerdau Açominas, de Ouro Branco, na Região Central do estado. Ao mesmo tempo, o grupo estuda o rumo que dará à produção excedente de suas jazidas localizadas na região de Ouro Preto.

“Canto de musa” Por trás da estratégia, as siderúrgicas buscam a rentabilidade que as mineradoras têm alcançado. Para o presidente do Ibram, Paulo Camillo Vargas Penna, o movimento é mostra de que o Brasil é um “país às avessas”. “É um canto de musa, já que os investimentos na mineração de ferro têm dado maior retorno aos acionistas. A produção de minério das siderúrgicas até 2015 representa o porte de uma bela empresa de mineração e com qualidade, tendo em vista que as reservas da Usiminas e da Gerdau têm altos teores de ferro”, afirma o executivo.

Os bons preços do minério de ferro seguem a lei da oferta e da procura, que é forte no mundo inteiro, observa o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil (antigo IBS), Marco Polo Mello Lopes. “A siderurgia busca ativos em minas de minério e carvão primeiro por uma questão estratégica, mas os volumes de ferro também viraram uma alternativa de negócios, já que as margens obtidas pelas mineradoras são maiores que o retorno sobre o produto siderúrgico”, diz.

A Mineração Usiminas anunciou o desembolso de R$ 4,1 bilhões para aumentar quatro vezes a sua produção atual de 7 milhões de toneladas de minério de ferro por ano (serão 29 milhões de toneladas em 2015). O diretor-executivo da empresa, Wilfred Buijn, já visitou prováveis clientes da siderurgia chinesa e da Ásia, em geral, e diz ter constatado o “apetite” pela matéria-prima que a Usiminas explora na Serra Azul de Minas, Região Central do estado. “Só faríamos um investimento tão expressivo na produção de minério ao perceber um mercado de futuro”, afirma. Paulo Camilo Penna, do Ibram, diz que, com o aquecimento da demanda pelo ferro no mundo, há mercado para as siderúrgicas entrarem num negócio antes próprio das mineradoras. A dúvida é sobre o comportamento dos preços, que deverão começar a cair, pressionados pelo aumento da oferta.
Estado de Minas

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