quinta-feira, 7 de julho de 2011

De carona na recompra.

www.simineral.org.br
07/07/2011

Com a queda das ações na bolsa brasileira diante do cenário de instabilidade no mercado externo, muitas empresas estão aproveitando os preços descontados para recomprar papéis de própria emissão.

Só neste ano, 25 companhias anunciaram ou renovaram seus programas de recompra com o objetivo de mostrar para os investidores que elas acreditam na sua operação - ontem à noite, foi a vez do BicBanco anunciar a aquisição de 10% das ações preferenciais (PN, sem voto). Com essa medida, elas sinalizam que os papéis têm um potencial de valorização maior que o avaliado pelo mercado. "As empresas estão aproveitando a oportunidade para buscar valorizar seus ativos", afirma Edson Garcia, superintendente da Associação de Investidores no Mercado de capitais (Amec).

O maior exemplo é a Vale, que divulgou no dia 30 de junho que vai desembolsar até US$ 3 bilhões (R$ 4,7 bilhões) para comprar 5,9% das ações em circulação até 25 de novembro. Desde o anúncio, os papéis PNB da mineradora já subiram 3,74%.

Além de puxar ou estabilizar as cotações, há outros benefícios para os acionistas, uma vez que os ativos recomprados e cancelados reduzem o número de ações, aumentando o valor dos dividendos proporcionais dos papéis que ficam em circulação. As empresas podem por lei recomprar até 10% das ações em circulação.

Muitas ações de empresas que anunciaram programas de recompra neste ano, como os frigoríficos JBS e Marfrig, Eucatex, Rodobens Desenv. Imobiliário e SLC Agrícola, estão sendo negociadas abaixo do valor patrimonial. Ou seja, a cotação do papel na bolsa é menor que o seu valor contábil.

É o caso do Paraná Banco, que tem adotado a aquisição de ações como parte da política de geração de valor para os acionistas. "Decidimos renovar o programa porque o preço da ação estava abaixo do seu valor patrimonial", afirma Cristiano Malucelli, diretor de relações com investidores e vice-presidente da instituição. O banco anunciou o 9º programa de recompra, que prevê a aquisição de até 630 mil ações, equivalentes a 2,7% dos papéis em circulação, com vigência até 30 de dezembro de 2011.

Ao todo, o banco já desembolsou cerca de R$ 160 milhões na compra dos ativos de própria emissão. "Não há um limite de valor para a recompra de papéis, que podem ser adquiridos à medida que vemos oportunidade no mercado", explica.

No caso dos papéis da Vale, por exemplo, o valor desembolsado na aquisição das ações, somado aos US$ 4 bilhões (R$ 6,3 bilhões) de dividendos a serem distribuídos e mais US$ 1 bilhão (R$ 1,6 bilhão) de dividendo especial pago em janeiro, representa de 25% a 30% do lucro líquido esperado para a companhia em 2011, destaca Alexander Hacking, analista do Citibank em relatório.

Apesar de apresentar um lucro três vezes maior que o registrado em 2009, de R$ 30,07 bilhões, os papéis da mineradora têm sofrido desde o ano passado, devido a incertezas em relação à troca da administração da companhia e à discussão de novo marco regulatório para o setor de mineração, que poderá mudar a cobrança de royalties. "O papel recuperou um pouco com o anúncio de recompra, mas ainda está abaixo do teto registrado em 12 meses, de R$ 52,94", lembra Pedro Galdi, analista da SLW.

A ação também está descontada em relação a outros pares do setor. A relação EV/Ebtida (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) - medida que relaciona o valor da empresa com a geração de caixa operacional e serve como indicador de tempo de retorno para reaver o investimento - da Vale está 25% a 30% abaixo das suas concorrentes BHP e Rio Tinto.

Já os papéis dos frigoríficos têm sofrido com o aumento dos preços das commodities agrícolas, que têm reduzido as margens dessas companhias. A ação do Marfrig acumula no ano queda de 1,5% até 6 de julho, enquanto a do JBS, que apresenta alavancagem financeira maior, tem desvalorização de 25%. "Estamos com recomendação de manutenção para o JBS e de compra para o Marfrig", destaca Luiz Cesta, analista da Votorantim Corretora.

As ações do Marfrig e do JBS estavam sendo negociadas abaixo do valor patrimonial, a 0,83 vezes e 0,76 vezes, respectivamente. Quanto menor essa relação, mais desvalorizada está a empresa em meio ao pessimismo do mercado.

De acordo com a Instrução 10 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a recompra dos papéis só pode ser realizada com a reserva de lucro.
Valor Econômico

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