sexta-feira, 22 de julho de 2011

Empregados estrangeiros.

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22/07/2011

Aumento de trabalhadores do exterior é sinal de falha na educação

O crescimento da economia brasileira e as notícias de que o país já enfrenta escassez de mão de obra para atender à demanda por trabalhadores qualificados, principalmente para a indústria, têm feito do Brasil o destino de muitos estrangeiros em busca de uma oportunidade. O esfriamento da atividade produtiva nos Estados Unidos e nas economias centrais da Europa ajuda a tornar países emergentes, como Rússia, China, África do Sul e Brasil. No nosso caso, já nos tornamos o principal destino de trabalhadores latino-americanos. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) revelam que 26.545 estrangeiros obtiveram o visto para trabalhar regularmente no país no primeiro semestre. Isso representou um crescimento de 19,4% em comparação com os primeiros seis meses do ano passado. “Somos, agora, a meca do trabalho para estrangeiros”, comemora o ministro Carlos Lupi.
 
Mas essa euforia é questionável. Afinal, a chegada cada vez mais intensa de trabalhadores estrangeiros não sinaliza apenas que estamos vivendo condições mais encorajadoras do que a maioria das economias tradicionais. É também um indicador que não pode ser desprezado de que continuamos muito atrasados no mais importante dever de casa da sustentabilidade do crescimento: a oferta de boa educação básica e ampla capacidade de preparação da mão de obra para o mundo tecnologicamente evoluído e economicamente competitivo. Um olhar mais detido nos registros dos vistos concedidos a trabalhadores estrangeiros revela que expressiva maioria (88,5%) deles, ou 23.483, foram dados a pessoas com pelo menos o ensino médio completo. E nada menos do que 15.044, ou seja, mais da metade (56,7%), têm curso superior completo, sendo que 997 têm pós-graduação, mestrado ou doutorado.
 
Nem de longe há motivo para suspeitar que a chegada dos estrangeiros pode deslocar o trabalhador brasileiro para o desemprego. Não é esse o caso e é de nossa saudável tradição receber e abrasileirar todo mundo. O problema é outro, muito mais complexo. A importação de mão de obra qualificada em tal intensidade dá uma medida do quanto fracassamos em oferecer ensino de qualidade em todos os níveis, já que contamos com contingente populacional jovem numeroso. Nos últimos 20 anos, o Brasil não teve a visão de futuro necessária para estimular a formação profissional em certos campos, como os da engenharia, indispensáveis ao crescimento industrial à inovação tecnológica. Estatística do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura constata que, enquanto nos países mais desenvolvidos há de 12 a 24 engenheiros por mil pessoas economicamente ativas, no Brasil esse índice não passa de sete. Como se trata de deficiência que não se resolve de hoje para amanhã, em vez de euforia pela preferência dos trabalhadores estrangeiros, o país precisa atacar logo e com objetividade essa questão. O governo precisa tirar do papel com mais rapidez seus planos de ampliar o ensino profissionalizante, além de investir na qualidade dos ensinos médio (em geral) e fundamental, para que nossos jovens cheguem à universidade com base mais sólida de conhecimentos e, portanto, aptos a absorver qualificação científica e técnica. O descaso com essa prioridade pode ser deixar de gerar empregos para os de fora e até mesmo para os nossos.
Estado de Minas

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