quarta-feira, 8 de junho de 2011

Continente também atrai brasileiros.

www.simineral.org.br
08/06/2011

Durante muito tempo, as empresas brasileiras viram a África como um mercado para realizar obras de infraestrutura ou como fonte de recursos naturais. Agora, como acontece no caso de empresas americanas ou chinesas, algumas brasileiras investem de olho no próprio mercado consumidor do continente e em seu potencial de crescimento.

A empreiteira Odebrecht S.A., de Salvador, é um exemplo disso. Veterana das obras de infraestrutura na África, onde está desde 1984, ela é hoje uma das principais empresas envolvidas na reconstrução de Angola e está passando das grandes obras para a construção de imóveis residenciais e comerciais na capital do país, Luanda. Está também envolvida no projeto Nosso Super: ela vai construir e abastecer 31 supermercados e 2 centros de distribuição nas 18 províncias do país.

A Odebrecht já tem seis projetos residenciais e dois que combinam edifícios residenciais e comerciais em Angola, como o Belas Business Park, que tem 112 apartamentos.

A gaúcha Marcopolo S.A. é outra que tem investido para atender à demanda local. A fabricante de carrocerias tem desde 2000 uma fábrica na África do Sul e abriu em 2009 uma segunda unidade, no Egito. A empresa, que tem sede em Caxias do Sul, começou a atender a clientes no continente por meio de intermediários e decidiu instalar uma fábrica na região devido à demanda crescente, que ela prevê que seja de 1.000 unidades nos próximos anos só para sistemas de transporte urbano. "As grandes distâncias e a faixa de renda da população favorecem a utilização do ônibus, quer em viagens interestaduais e intermunicipais, quer nas cidades", disse um porta-voz da Marcopolo.

Com 600 funcionários, a unidade sul-africana tem em sua maioria funcionários nativos, muitos deles qualificados nas próprias instalações educacionais da empresa. Em 2010 a fábrica produziu 680 unidades, ante 210 no ano anterior, e a Marcopolo está de olho na demanda de outros países do chamado cone sul da África. A empresa afirma que a produção caiu este ano devido à ausência de grandes eventos (como a Copa do Mundo do ano passado) e a ciclos sazonais de renovação de frotas. A unidade do Egito,uma joint-venture com o grupo local GB Auto, produziu 207 unidades em 2009 e 334 em 2010, mas está operando este ano abaixo da capacidade diante da turbulência política no país norte-africano. Mesmo assim, a empresa afirma continuar apostando no potencial de crescimento da região, disse o porta-voz.

A onda de investimentos brasileiros ganhou impulso com o incentivo do governo ao estreitamento dos laços com o continente. O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva viajou à África diversas vezes em seus dois mandatos, período em que o Brasil também abriu mais de 30 embaixadas em países africanos. Em 2010, o comércio bilateral entre o Brasil e o continente, excluindo Oriente Médio, chegou a US$ 20,5 bilhões, ante US$ 5 bilhões em 2002, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Dos US$ 9,3 bilhões exportados pelo Brasil à África em 2010, dois terços foram de produtos industrializados.

Apesar do crescimento, o presidente da Câmara de Comércio Afro-Brasileira, Adalberto Camargo Jr., ele próprio um empresário exportador de máquinas e implementos agrícolas à África, diz que o Brasil tem perdido participação no mercado africano desde os anos 70, quando realizou a primeira investida na região. A exceção é Angola, o principal foco de investimento de empresas brasileiras no mercado consumidor africano, onde diversas empresas de médio porte estão investindo para atender ao mercado local. "A proximidade linguística e os laços étnicos e culturais facilitam muito o intercâmbio comercial com Angola", diz Camargo.

A busca por recursos naturais também continua. A mineradora Vale S.A., com sede no Rio, planeja fazer US$ 2,5 bilhões em investimento de capital na África. A HRT Participações em Petróleo S.A., também do Rio, detém dois blocos e tem participação em outros três blocos de exploração na Namíbia com características semelhantes à região do pré-sal.
Valor Econômico

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