segunda-feira, 6 de junho de 2011

A disparada das commodities.

www.simineral.org.br
06/06/2011

O preço das matérias-primas caiu nas últimas semanas, mas não se iluda: a escalada das cotações deve continuar no cenário

Durante o mês de maio, o índice CRB, que registra a cotação internacional de 19 commodities, teve uma das maiores quedas registradas em dois anos. O índice chegou a ficar em 332 pontos no dia 17 , depois de manter-se na média de 360 pontos durante os meses de janeiro e abril, deste ano. Liquidações de estoques de grãos, safra de soja recorde e uma baixa na queda de petróleo, trouxeram otimismo.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, chegou a prever que a redução de preços das matérias-primas viria a amenizar pressões inflacionárias no Brasil. A boa notícia, porém, foi um tanto quanto efêmera. Nos últimos dias, o índice CRB voltou a subir, com novas altas dos preços do petróleo e do minério de ferro.

Os bancos Morgan Stanley e Goldman Sachs projetam a alta do petróleo e de metais básicos para o ano. Segundo o Goldman Sachs, o barril do petróleo,  negociado nos próximos meses a US$ 110, deverá  fechar 2011 em US$ 120.  Na semana passada,  a consultoria britânica Markit chegou a fazer uma projeção mais modesta,  apontando para um barril a US$ 90,  até o final do ano, em função dos sinais de crescimento global menor, com as dificuldades de recuperação do  Japão depois do terremoto, e a letargia na retomada dos Estados Unidos e Europa. Mas nada que perdure a ponto de reverter a valorização das commodities.

No caso das matérias-primas agrícolas, houve um recuo nos preços da soja e do trigo neste ano (veja quadro ao  lado). “Foi uma queda pontual”, diz Flavio França Junior, analista da consultoria Safras & Mercado, de Porto Alegre (RS). “O preço só cai se houver aumento da produção ou redução de consumo. E não há, no horizonte, sinais de nenhum desses dois movimentos.”

Assim como França, dez entre dez especialistas no assunto reforçam que, enquanto a elementar doutrina da oferta e procura continuar em desequilíbrio, os preços das commodities seguirão oscilando num viés de alta. Há pelo menos uma década, o mundo observa uma ampliação do mercado consumidor, principalmente nos países emergentes.

O número de chineses que saiu da zona rural e foi acolhido nas grandes cidades, com emprego formal e renda, por exemplo, chega a centenas de milhões de pessoas. Na Índia,  os investimentos estrangeiros aumentaram também a renda na base da pirâmide.

A mudança de patamar do padrão de consumo desses dois países já explicaria por que aumenta a demanda por alimentos, petróleo e metais para a infraestrutura no mundo.

Mas, além da China e da Índia, outros países da América Latina e do continente africano vivem um momento de expansão econômica. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO, na sigla em inglês), a produção de alimentos aumentou, de fato, como no caso dos cereais, que subiu de 428 bilhões de toneladas produzidas entre 2007 e 2008 para 525 bilhões de toneladas (2009-2010).

No entanto, esse crescimento é insuficiente. Segundo a FAO, os investimentos privados em agricultura somam US$ 140 bilhões anuais, quando deveriam ser de US$ 200 bilhões para atender à demanda. A oferta restrita de alguns produtos já influencia a vida prática das empresas. No Brasil, por exemplo, os produtores de frango estão revendo planos de exportação em função das oscilações do mercado de milho. O cereal passou de US$ 248 a tonelada em janeiro, para US$ 280 neste mês.

Em janeiro do ano passado,  custava US$ 150. Segundo Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), os produtores podem privilegiar o mercado interno. “A alta dos preços da ração, derivada do milho, não é compensada internacionalmente pelos preços da carne de frango”, afirma Turra.

Na Europa, quem sofre com as cotações do petróleo são as empresas aéreas de baixo custo. No mês passado, Michael O’Leary, presidente-executivo da empresa irlandesa Ryanair, anunciou que manterá 80 dos seus 300 aviões no chão e irá demitir funcionários. O’Leary justificou a decisão por conta da alta do preço dos combustíveis.

De acordo com Hugo Hissanaga, analista da M2 Investimentos, de São Paulo, todas as projeções mostram que não há reversão de alta. “O petróleo disparou, assim como o minério”, diz Hissanaga. Há outro fator, ainda, que inflaciona esse mercado. A falta de alternativas de investimentos rentáveis também contribui para a valorização das commodities, diz César Lauro, sócio da Capitânia Gestores de Recursos. “Diante das incertezas quanto ao dólar e ao euro, os investidores recorrem a ativos reais, como fundos vinculados a commodities”, diz Lauro.

Para tentar estabelecer um teto de preços no horizonte, ao menos para as commodities agrícolas, os países do G-20 estudam formas de aumentar a transparência de operações no mercado financeiro. Seria criado, assim, um Sistema de Informação dos Mercados Agrícolas, com dados atualizados sobre previsões de safra, produção e estoques. As informações seriam monitoradas pela FAO.

A proposta foi feita pela França, que ocupa a presidência rotativa do bloco, e será colocada em pauta entre 22 e 23 de junho, em Paris, no encontro de ministros da Agricultura do bloco, com apoio do governo brasileiro. “Quando os mercados têm mais informação, a margem para especulação é menor e o mercado fica mais estável”, disse à DINHEIRO Luís Balduíno Carneiro, diretor do departamento de assuntos financeiros do Itamaraty, que chefia a delegação brasileira.
Isto É Dinheiro

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