segunda-feira, 12 de setembro de 2011

E eu com o ouro?

www.simineral.org.br




E eu com o ouro?
12/09/2011

A cada crise econômica, o ouro vira febre entre os investidores que buscam proteção do patrimônio. É o que vem acontecendo desde meados de 2007, quando os primeiros sinais de turbulência apareceram no horizonte. Lá fora e aqui.

A cotação do metal na Bolsa Mercantil de Nova York já subiu quase 180% desde então (há quatro anos), sendo cerca de 30% somente neste ano, até sexta-feira. Bom para quem pegou o movimento desde o início, pois os especialistas têm dúvida se esse ritmo forte vai se sustentar.

Por aqui, a procura pelo metal continua. O número de contratos de ouro à vista negociados na BM&FBovespa manteve o crescimento em agosto, apesar do ritmo menor, superando os 2,6 mil. O volume chegou a R$ 61,5 milhões. No Banco do Brasil (BB), por exemplo, o volume médio diário de negociação do ouro dobrou em agosto se comparado à média diária de 2011 até julho, alcançando 4 quilos.

Mas para o aplicador brasileiro, que tem à disposição uma das maiores taxas de juros do mundo, será que o ouro é tão atrativo? "Como alocação tática, para valer a pena, o metal precisa bater o custo de oportunidade", explica o diretor do HSBC Private Bank Marcelo Muradian. Ele refere-se à taxa de juros local, hoje em 12% ao ano.

Levando em conta a cotação de sexta-feira na casa de US$ 1.855 a onça-troy (equivalente a 31,1 gramas), o ouro precisaria subir pelo menos mais US$ 220 para empatar com o juro brasileiro no prazo de um ano. Para o investidor estrangeiro, que tem uma taxa de cerca de 2% em títulos do Tesouro americano para dez anos, compara Muradian, bater o custo de oportunidade é mais fácil.

A tendência do ouro segue de alta, apontam especialistas em commodities, por conta das incertezas que turvam o horizonte - a Europa voltou à cena no fim da semana com o risco de default na Grécia - e da demanda crescente pelo metal, especialmente de bancos centrais mundo afora, que buscam diversificar suas reservas além do dólar. Só que o ritmo de valorização daqui para frente vai depender dos desdobramentos das crises nas economias centrais e seus impactos na recuperação global.

Em relatório do início de agosto, o time de commodities do Bank of America Merrill Lynch elevou suas estimativas para o ouro para US$ 2.000 em 12 meses devido à deterioração da dívida soberana na Europa e, principalmente, ao aumento da probabilidade de uma terceira rodada do programa de injeção de liquidez nos Estados Unidos, dada a fraqueza da economia - a expectativa é de que o programa seja anunciado na reunião do Federal Reserve (Fed, banco central americano) neste mês.

Já a gigante do setor de mineração, a sul-africana AngloGold Ashanti, projeta o preço do metal na casa dos US$ 2.200 em dois anos, segundo informou o principal executivo da empresa, Mark Cutifani, em entrevista no mês passado ao Valor.

"Para o investidor brasileiro comum, que não tem horizonte de longo prazo, comprar o ouro no meio da crise depois de toda essa alta é arriscado", alerta o sócio da Tendências Consultoria Integrada, Nathan Blanche. Ações de empresas sólidas e títulos do governo brasileiro que pagam cerca de 11,5% têm mais atratividade neste momento, acredita.

Blanche ressalta, no entanto, que o investimento no metal vale para quem acredita no caos. "Eu não acredito no caos, passada a onda de pessimismo, o ouro tende a perder valor e o investidor vai ter de esperar mais 30 anos para ter um ganho significativo", emenda. Ele se refere ao período que sucedeu o último pico do metal, alcançado na década de 80, em meio ao choque de petróleo.

O investidor brasileiro precisa levar em conta ainda a taxa de câmbio, já que os contratos de ouro negociados na BM&F (o lote-padrão é de 250 gramas) são denominados em real, apesar de acompanharem a cotação lá fora. Levantamento do ValorData mostra que, neste ano, até o dia 9 de setembro, enquanto o ouro em Nova York acumulou ganho de 30%, o contrato na bolsa local teve alta de 19,5%, já que o real esteve mais forte do que o dólar ao longo do ano.

Também a baixa liquidez do mercado de ouro brasileiro é outro risco que deve considerado no momento da aplicação, alerta o sócio da Tag Investimentos Marcelo Pereira. Os bancos e corretoras garantem a recompra, mas com "spreads" (diferença) maiores entre os preços de compra e venda. Além disso, o executivo afirma que o baixo volume de negociação pode dificultar a saída do mercado. "Isso não seria problema se o investidor brasileiro buscasse o ativo como proteção da carteira e não para especular", ressalta.

Mas não se discute o ouro como uma classe de ativos para carregar e proteger o patrimônio em momentos de turbulência. "Esse é um tema que tem de estar presente nas discussões de portfólio como alternativa de diversificação", destaca Muradian, do HSBC. Tanto por ser um ativo real que funciona em cenários catastróficos como para preservação do capital em momentos de alta de inflação, diz.
 
Valor Econômico

Nenhum comentário:

Postar um comentário